Mas não foram só as redes de ensino que passaram por processos de transformação. As coordenadoras das três organizações envolvidas no programa também foram significativamente impactadas. Lilian, coordenadora de projetos no Cenpec, Karina, coordenadora pedagógica na Associação Nova Escola (ANE), e Maria Helena, coordenadora de projetos na Sincroniza Educação, relatam aprendizados e experiências marcantes no decorrer do programa.
Lilian esteve à frente da implementação e formação pedagógica do impulsiONar nos municípios de Guaramiranga (CE) e Cabrobó (PE) pelo CENPEC. Para ela, estar próxima às gestões municipais foi um aprendizado relevante, já que o trabalho com Secretarias do Estado predominava em seu histórico de atuação antes da iniciativa. “(…) pra mim foi bem importante conhecer a política do ponto de vista das equipes dos municípios (…), das culturas. Elas [culturas] influenciam a forma como cada rede pensa, trabalha, se articula, e redesenham bastante o programa”, relata Lilian sobre a experiência do impulsiONar. Sua sensibilidade cultural e maneira de se relacionar com cada agente envolvido, priorizando trocas horizontais e a construção de momentos de partilha, definiram a sua gestão. Segundo a coordenadora, estes elementos são importantes pois “constituem um solo comum” para que as equipes possam trabalhar de forma colaborativa e harmônica.
Lilian destaca que combater defasagens educacionais no Brasil requer, para além da combinação de conhecimentos em gestão pública e educação, valorização e adaptação em relação às realidades das redes de ensino. Estes fatores são fundamentais para o desenvolvimento e a implementação de estratégias sistêmicas, voltadas à transformação de fatores indutores da aprendizagem. “A defasagem não acontece só porque aconteceu a pandemia. Defasagem é uma questão estrutural. E tem a ver com os métodos de ensino. Então se a gente está preocupado em impactar a aprendizagem, a gente precisa mudar os métodos de ensino”, completa Lilian.
“A defasagem não acontece só porque aconteceu a pandemia. Defasagem é uma questão estrutural. E tem a ver com os métodos de ensino. Então se a gente está preocupado em impactar a aprendizagem, a gente precisa mudar os métodos de ensino”
(Lilian Kelian)
Maria Helena, que liderou a implementação nos municípios de Santa Maria (RS) e Igarassu (PE) pela Sincroniza, revisita a importância de se conhecer presencialmente as secretarias e suas respectivas escolas, sobretudo para a criação de pontes e conexões verdadeiras. “Não tem como chegarmos [nas redes de ensino] como projeto se não chegarmos como gente. Uma coisa que tentamos fazer foi passar em todas as escolas [das redes de ensino atendidas]. Então, nos dois municípios eu visitei todas as escolas. Eu e a equipe de formação. (…) a gente conseguiu se aproximar bastante das equipes locais, porque a gente estava ali, vendo, conversando, entendendo como que era o dia-a dia, a rotina. Cada escola é um território diferente dentro de um mesmo município.”, compartilha a coordenadora.
“Não tem como chegarmos [nas redes de ensino] como projeto se não chegarmos como gente… a gente estava ali, vendo, conversando, entendendo… Cada escola é um território diferente dentro de um mesmo município.”
(Maria Helena)
Já Karina, que acompanhou o programa nas cidades de Volta Redonda (RJ), Bonito (PE), Domingos Mourão (PI), e Igarassu (PE) e Santa Maria (RS) junto da Sincroniza, exalta a abordagem sistêmica promovida pelo programa e seu Modelo Pedagógico – com 8 eixos estratégicos para prevenir e reduzir defasagens, e voltado para transformar desde a política pública até as práticas em salas de aula. A coordenadora da Associação Nova Escola (ANE) afirma que “O impulsiONar foi um ponto de virada no meu entendimento do trabalho com Secretarias de Educação, uma vez que o programa, ao olhar para mais eixos e de maneira mais conectada, permitiu um impacto maior. Numa lógica de recomposição, não é possível trabalhar com eixo de currículo se você não tiver o eixo de avaliação, não é possível trabalhar com eixo de avaliação se não tiver formação, assim por diante.” Karina resume a riqueza da experiência em uma frase: “gerar coerência para o trabalho das Secretarias”.
Ainda sobre sua experiência, a gestora pedagógica compartilha a visão de que, quando equipes estão engajadas e impactadas pelas jornadas vivenciadas, o potencial de mudança se expande. Karina conta que viu este efeito “dominó” positivo ocorrendo nos municípios do programa. “A gente viu que o que mexeu o ponteiro foi você ter uma equipe [nas redes de ensino] muito dedicada, e dedicada não só em termos de horas, mas em termos de ter acreditado no projeto e de ter trazido isso para uma centralidade dentro de tudo que eles tinham para fazer”, relata ela.
“O impulsiONar foi um ponto de virada no meu entendimento do trabalho com Secretarias de Educação… Numa lógica de recomposição, não é possível trabalhar com eixo de currículo se você não tiver o eixo de avaliação, não é possível trabalhar com eixo de avaliação se não tiver formação, assim por diante.”
(Karina Padial)
Considerando a centralidade do impulsiONar na vida de quem dele participou, Maria Helena recorda uma passagem que a marcou. Logo após a chegada da tecnologia (tablets e recursos educacionais digitais) em Igarassu (PE), a mídia local foi até uma escola do município para realizar uma entrevista com ela. ”Mais do que a Globo me entrevistar, é o quanto isso [as ações do programa] impactou a rede. Estavam todos ali, o pessoal da Secretaria de Educação, os diretores, (…) as crianças, se organizando para aparecer na TV, mostrar o quanto aquilo tinha sido legal (…) aquilo mobilizou toda a comunidade do projeto. Não foi só a comunidade da escola, ou a Secretaria de Educação. A gente conseguiu criar uma comunidade do projeto.”, relata ela.
Lilian, Karina e Maria Helena desempenharam papel fundamental ao formar líderes educacionais e professores de múltiplas realidades na prevenção e redução de lacunas de aprendizagem de estudantes. Os aprendizados compartilhados pelas gestoras demonstram suas capacidades de não apenas promover transformações positivas por meio de processos formativos, mas, sobretudo, de também se transformarem através deles. É mais uma representação da postura comprometida e sensível com a qual as três orientam os seus trabalhos para o avanço da educação pública brasileira.
Sobre as protagonistas
Karina Padial é coordenadora pedagógica na Associação Nova Escola (ANE), Lilian Kelian é coordenadora de projetos no Cenpec, e Maria Helena Bravo é coordenadora de projetos na Sincroniza Educação. O trabalho citado acima foi realizado em colaboração com toda a equipe do Cenpec, Associação Nova Escola (ANE), Sincroniza Educação, além de organizações parceiras. O impulsiONar agradece o empenho de Lilian, Karina e Maria Helena e todos os atores que colaboraram para avançar a educação pública brasileira.
Para saber mais sobre a implementação do impulsiONar em redes públicas de ensino, clique aqui.